Científicos

Mito do "Maconheiro Estúpido" vira fumaça
July 27th, 2011 By: Paul Armentano, NORML Deputy Director

                O consumo de cannabis, mesmo a longo prazo, apresenta poucos efeitos adversos em performance cognitiva, de acordo com dados de estudos clínicos a serem publicados no periódico científico Addiction.

                Investigadores na Universidade de Melbourne e a Universidade Nacional Australiana, Centro de Pesquisa de Saúde Mental, acessaram o impacto do uso de cannabis em várias medidas de memória e inteligência em mais de 2000 consumidores de marijuana auto-identificados e não usuários, em um período de oito anos. Entre consumidores de cannabis, sujeitos eram agrupados nas seguintes categorias: usuário 'pesado' (uma vez por semana ou mais), usuário 'leve', ex-usuário 'pesado', ex-usuário 'leve', 'sempre ex' - uma categoria que consistiu em sujeitos que cessaram o uso de marijuana antes da entrada no estudo.

Pesquisadores reportaram: " Apenas com respeito à medida de imediata recordação houve evidência de uma performance melhorada associada com abstinência da cannabis, com resultados similares àqueles que nunca usaram cannabis, no final. Nas medidas cognitivas remanescentes, depois de controlar para educação e outras características, não houveram diferenças significantes associadas com consumo de cannabis."

                Eles concluíram, "Assim, os impactos adversos do uso de cannabis em funções cognitivas parecem ser relacionados a fatores pré-existentes ou são reversíveis nesta coorte de comunidade mesmo depois de potencialmente extensos períodos de uso."

                Estudos separados previamente reportaram que uso a longo prazo de marijuana não é associado a déficits residuais na função neurocognitiva. Especificamente, um estudo de 2001 publicado no periódico Archives of General Psychiatry descobriu que consumidores crônicos de cannabis que se abstinham da droga por uma semana "mostraram virtualmente nenhuma diferença significativa de sujeitos de controle (aqueles que fumaram marijuana menos de 50 vezes nas suas vidas) numa bateria de 10 testes neuropsicológicos. (...) Ex-usuários pesados, que consumiram pouca ou nenhuma cannabis nos três meses antes do teste, [também] não mostraram diferenças significantes de sujeitos de controle em qualquer desses testes em qualquer dos dias de teste."

                Adicionalmente, estudos também implicaram que cannabis pode ser neuroprotetora contra déficits cognitivos induzidos por álcool. Um estudo de 2009 de investigadores da Universidade da Califórnia e São Diego, reportaram que consumidores pesados de álcool que também usaram cannabis tiveram significantemente menos dano de substância branca no cérebro que sujeitos que consumiram apenas álcool.


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“Ciência e fraude no debate da maconha”
Ciência e fraude no debate da maconha -  SIDARTA RIBEIRO, JOÃO R. L. MENEZES, JULIANA PIMENTA e STEVENS K. REHEN

Causa-nos estranheza que psiquiatras venham a público negar o potencial terapêutico da maconha, medicamento fitoterápico de baixo custo.

O artigo contra o uso medicinal da maconha de Ronaldo Laranjeira e Ana C. P. Marques (“Maconha, o dom de iludir”, “Tendências/Debates”, 22/7) contém inverdades que exigem um esclarecimento.

                A fim de desqualificar a proposta de criação de uma agência brasileira para pesquisar e regulamentar os usos medicinais da maconha, os autores citam de modo capcioso o livro “Cannabis Policy: Beyond the Stalemate”.

                Exatamente ao contrário do que o artigo afirma, o livro provém de um relatório com recomendações claramente favoráveis à legalização regulamentada da maconha.

                Conclui o livro: “A dimensão dos danos entre os usuários de maconha é modesta comparada com os danos causados por outras substâncias psicoativas, tanto legais quanto ilegais, a saber, álcool, tabaco, anfetaminas, cocaína e heroína (…) O padrão generalizado de consumo da maconha indica que muitas pessoas obtêm prazer e benefícios terapêuticos de seu uso (…)

                O que é proibido não pode ser regulamentado. Há vantagens para governos que se deslocam em direção a um regime de disponibilidade sob controle rigoroso, utilizando mecanismos para regular um mercado legal, como a tributação, controles de disponibilidade, idade mínima legal para o uso e compra, rotulagem e limites de potência. Outra alternativa (…) é permitir apenas a produção em pequena escala para uso próprio” (http://www.beckleyfo...-commission.htm).

                Qualquer substância pode ser usada ou abusada, dependendo da dose e do modo como é utilizada.

                A política do Ministério da Saúde para usuários de drogas tem como estratégia a redução de danos, que não exige a abstinência como condição ou meta para o tratamento, e em alguns casos preconiza o uso de drogas mais leves para substituir as mais pesadas.

                O uso da maconha é extremamente eficiente nessas situações. A maconha foi selecionada ao longo de milênios por suas propriedades terapêuticas, e seu uso medicinal avança nos EUA, Canadá e em outros países.

Dezenas de artigos científicos atestam a eficácia da maconha no tratamento de glaucoma, asma, dor crônica, ansiedade e dificuldades resultantes de quimioterapia, como náusea e perda de peso.

                Em respeito aos grupos de excelência no Brasil que pesquisam aspectos terapêuticos da maconha, é preciso esclarecer que seu uso médico não está associado à queima da erva. Diretores da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) afirmam frequentemente que maconha causa câncer. Entretanto, ao contrário do que diz a Abead, a maconha medicinal, nos países onde este uso é reconhecido, é inalada por meio de vaporizadores, e não fumada.

                Isso elimina por completo os danos advindos da queima, sem reduzir o poder medicinal dos componentes da maconha, alguns comprovadamente anticarcinogênicos.

                Causa, portanto, estranheza que psiquiatras venham a público negar o potencial terapêutico da maconha, medicamento fitoterápico de baixo custo e sem patente em poder de companhias farmacêuticas.

                Num momento em que o fracasso doloroso da guerra às drogas é denunciado por ex-presidentes como Fernando Henrique Cardoso, em que a ciência compreende com profundidade os efeitos da maconha e em que se buscam alternativas inteligentes para tirá-la da esfera policial rumo à saúde pública, é inaceitável a falsificação de ideias praticada por Laranjeira e Marques.

                O antídoto contra o obscurantismo pseudocientífico é mais informação, mais sabedoria e menos conflitos de interesses.


               
SIDARTA RIBEIRO é professor titular de neurociências da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
JOÃO R. L. MENEZES é professor adjunto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do simpósio sobre drogas da Reunião SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento) 2010.
JULIANA PIMENTA é psiquiatra da Secretaria de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro.
               
STEVENS K. REHEN é professor adjunto da UFRJ.

Fonte: site da folha.

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